terça-feira, 1 de maio de 2012

Não quero ser treinador

Resisti à tentação de ser um treinador à distância, como muito daqueles que não conhecem minimamente os atletas que treinam - em muitos casos nunca se encontraram pessoalmente -, mas que ainda assim cobram, e não é pouco, por um serviço que, muitas das vezes, não passa de um ficheiro de excel/word, várias vezes copiado, colado e enviado para vários clientes. Assim é fácil ser "treinador"!

Por outro lado, ser treinador presencial, seria para mim um segundo trabalho. Apesar de desapontado com o estado atual da escola pública e de uma sociedade onde ter maus hábitos de vida e criticar quem faz desporto e é aparentemente saudável é que é fixe - INVEJOSOS! -, ainda tenho gosto de ensinar quem deixa ser ensinado. Significa então que não me imagino a deixar o ensino para ser treinador, e como não vislumbro a possibilidade de, na cidade das instalações e estágios desportivos, um projeto de formação, iniciação e rendimento na modalidade de Triatlo vir a ter sucesso, ao ponto de, um técnico ser profissional a tempo inteiro, mais vale ficar como estou.

Ser treinador, à distância ou presencial, é um tentador desafio, mas simultaneamente, é um  compromisso e uma responsabilidade para com todos aqueles que confiam no trabalho sério e empenhado de um técnico. Neste jogo do dar e receber da formação e treino desportivo, sobretudo entre técnico e atletas, deverá existir um equilíbrio tal que ambas as partes se sintam devidamente recompensadas. Se ser treinador presencial a tempo inteiro é tarefa árdua, que dizer de quem desempenha tais funções de um modo parcial, ou seja, após a atividade profissional? 

Admiro e respeito muito quem abraça a carreira de treinador, mas tanto quanto tenho conhecimento, tendo em conta as compensações financeiras recebidas por muitos treinadores de diversas modalidades, quem acaba por pagar para treinar é o treinador. Os médicos, enfermeiros, advogados, só par citar algumas classes profissionais, após 18 anos de investimento em formação, fazem isto? 

Naquelas circunstâncias, compreendo a opção de ser treinador, se a mesma tiver motivações como o enorme gosto de ensinar, formar e educar atletas, e em particular, relacionadas diretamente com um projeto de âmbito desportivo e social. De outra forma, poderá ser um trabalho inglório.

No meu caso pessoal, nem quero saber se algum dia seria considerado um bom treinador, mas só o facto de saber que iria tentar ser isso mesmo, iniciar-se-ia logo aí o processo de desequilíbrio, ou seja, teria que abdicar de muitas horas semanais com a família e, claro está, a minha própria prática desportiva de competição também seria relegada para um lugar muito distante do atual. Definitivamente, neste momento e perante o contexto atual, não tenho perfil para ser treinador de nada, nem de ninguém. A menos que muita, mas mesmo muita coisa se altere, sobretudo, a mentalidade das pessoas.

Contudo, continuarei a partilhar informação, a debater ideias e a emitir opiniões, de forma descomprometida, com todos os interessados pela atividade física.

É o mínimo que posso e devo fazer.

2 comentários:

João Correia disse...

Pedro, essa postura, sendo pessoal, está legitimada pelo grau de profissionalismo que determinas para prosseguir tamanho projecto. Embora sejam discutíveis alguns dos aspectos que referes, no essencial, relativamente à exigência que se espera dum treinador, concordo em absoluto. Ou se é sério no que se faz, ou então mais vale estar quieto. Já temos demasiadas pessoas iludindo-nos.
Agora menos a sério; então, quer dizer que "abandonaste" aquele teu atleta que levaste à maratona do Porto-edição 2011!...Tá mal! :))

Forte abraço, companheiro.

Triatleta disse...

JC,

É apenas a minha postura pessoal e profissional. Não é vinculativo :-)

O meu atleta é que me está a abandonar e por isso mesmo está a ficar gordo. Sempre que posso, tal como hoje, desafio-o para ir treinar.

Um abraço.