quarta-feira, 25 de abril de 2012

Sinais de alerta

Na condição de atleta amador e imbuídos do espírito competitivo, a ânsia de treinar e competir leva a que muitas ocorrências nos passem completamente despercebidas. Algumas não têm a menor importância e ninguém se vai preocupar mais com a atenção que não se deu.

Porém, o assunto toma outras proporções quando no nosso ritmo freneticamente egoísta, típico de atletas amadores que "não podem" perder tempo, porque esse mesmo tempo faz falta para treinar, recuperar ou atrasa o compromisso de estar a horas certas num treino ou competição, sistematicamente, e de forma mais ou menos consciente, vamos ignorando os avisos e sinais de alerta que nos deveriam fazer parar ou, no mínimo, abrandar para pensar se o nosso comportamento é o mais saudável para todos.

Este "todos", naturalmente, assume particular importância quando se trata da família e do equilíbrio e estabilidade que é fundamental manter no quotidiano, para que a mesma não se desestruture, devido a algo que se tornou - mas que não deveria ser -, uma obsessão.

Também já não me encontro nesse ponto, mas longe, muito longe disso, ainda assim, recentemente vivi um momento que me fez pensar sobre a forma como atualmente ainda encaro a prática desportiva de competição. O episódio é simples: num domingo de manhã, chegada a hora de partida para mais uma prova, o meu filho negou-se a sair de casa, afirmando com toda a convicção "Não quero ir! Não gosto de provas!".

Dei-lhe razão, despedi-me da família e fui sozinho para a prova, mas fui a pensar no assunto e, com toda a certeza, este foi um episódio que me marcou e irá alterar indelevelmente a forma como, futuramente, irei encarar a prática desportiva regular, em particular, a participação em competições.

Já vos aconteceu algo semelhante?

7 comentários:

MT disse...

A mim também me acontece. E tens razão, ir a todas começa a ser demasiado egoísta...

Pedro Silva Santos disse...

Como sabes pratiquei outra modalidade desportiva (futebol) durante 25 anos,” amadorismo” é uma palavra enganadora pois sais do trabalho, ou escola, vais para o treino e quando chegas a casa a familia já dorme ou perto disso. Parece que não vês mais nada, que quando não treinas ou as coisas correm mal tudo o resto é secundário, toda a gente paga pela mesma tabela e nem percebes que estás de tal forma “mergulhado” na tua atividade que nem notas que estás a ser egoista e que de és injusto para com aqueles que sempre te apoiaram e de vez em quando querem o pai ou o marido e que dispensam o desportista.
Quando és amador tens provavelmente menos tempo livre do que quando és profissional, nunca o fui (profissional), mas tirando o tempo de estágios e viagens tens seguramente mais tempo livre durante o dia, nem que seja entre os treinos (no caso de bidiários) ou antes e depois (no caso de um só treino).
Tu foste um dos responsáveis de eu tentar fazer triatlo mas depressa percebi que não o posso fazer com o afinco que pretendo, pois estava a reentrar na rotina de á uns anos atrás e a deixar a familia em défice de pai e marido. Sabes a forma como hoje em dia encaro a prática desportiva (amador, lowcoast. Autodidata, ... ) treino para triatlo mas não o faço a nivel oficial, salvo uma ou duas provas, tento não stressar quando não posso treinar e compenso com uma ou outra maluqueira diferente do habitual.
Para concluir optei pela familia, não me arrependo pois continuo a praticar desporto e desfrutar da companhia da minha mulher e do crescimento das minhas filhas. Aquilo que estás a passar já passei de forma parecida e entendo que se fores gerindo a familia e o treino é perfeitamente possivel conciliares as duas coisas, agora tal como sempre me disseste, tens de definir prioridades e como tal uma normalmente sobrepõe-se á outra com ligeiro prejuizo da menos prioritária. Claro que ainda não me consigo desligar completamente da competição nem sei se alguma vez conseguirei ,provavelmente quando isso acontecer então é que só farei os passeios domingueiros com os amigos pois ainda é dificil ser ultrapassado por atletas que achas que têm menos condições do tu, mas que por treinarem mais conseguem obter melhores resultados e é assim que deve ser.Em contra partida a forma como te posicionas nas competições permitem-te disfrutar muito mais do desporto e da companhia dos teus amigos.
Foi apenas uma reflexão e um contributo para a discussão em volta de um tema comum a tantos “veteranos” como nós.

Um abraço,
Pedro A. S. Santos

Triatleta disse...

Caros amigos, obrigado pelas vossas sinceras opiniões. Felizmente, não me sinto em rotura, nem com a família, nem com os amigos, nem com a prática desportiva.

Mas de tempos em tempos, é indispensável repensar e reorganizar a vida, para ela nos sorrir e nós sorrirmos para ela.

Só assim faz sentido andar por cá: em equilíbrio interior e exterior.

Saúde e um abraço para todos...e treinem! :-)

Jordão Alves disse...

Ola Pedro, antes de mais parabéns mais uma vez pela iniciativa de humildade para colocar este post.
Aquilo que perguntas e dizes ter vivido de forma presente é um facto que também me revejo nele.
Gostaria de participar em muito mais provas mas cada vez mais a vida em que estamos inseridos e fomos encaminhados a estar inseridos nos condiciona.
Por isso cada vez posso participar em menos eventos e tenho a certeza que quem tiver uma família isto é ( for pai ou mãe ou tiver pessoas dependentes) e disser que pode contornar isto e ir onde quer e lhe apetece estar a mentir, por mais sacrifício que haja de treino de acompanhantes de horários etc. Alguma coisa fica para trás.
Quantas vezes ouso a minha filha a dizer o pai então? Porque não vamos para aqui ou porque temos que fazer isto? Ou os meus amigos a dizer porque não podes vir jantar no sábado a noite? Os pais a dizer porque não podem vir almoçar com nos no domingo? Os familiares a comentar entre si agora só fazem desporto etc.
Realmente o triatlo/ duatlo é uma paixão que depois de ser descoberta dificilmente se deixa de praticar.
Por isso posso dizer que gosto muito de competir e tenho pena de não ter descoberto esta paixão mais cedo, mas cada vez mais participo menos em provas porque não vivo sozinho nem vivo do desporto como tal continuarei a participar em algumas com o espirito de superar os meus resultados e claro acabo por defeito por compara-los com os dos outros algo que também não faz qualquer sentido visto não termos todos a mesma disponibilidade de tempo e outras condicionantes que são incomparáveis.
Realmente a palavra competição faz muito mais sentido aqueles que vivem dela e para ela.
Como tal todos nos amadores ou melhor eu amador julgo que competir é bom porque nos motiva mas não mais do que isso.
Um abraço e até breve.

david caldeirao disse...

pois é..., vivemos num dificil equilibrio TRIANGULAR (familia-trabalho-desporto) e tentamos nos manter o mais equilibrados possivel, mas se já é dificil equilibrar dois pontos o que dizer de três!?!?!? não há milagres...
estabelecer prioridades certamente!!!
mas atenção quantas vezes já ficas-te em casa para poder estar com o filho e ele nem deu pela tua presença???
ou somos egoistas ou pensamos nos outros..., não sou adepto de extremos :( bom senso e ponderação, há "tempo" para tudo e tudo tem o seu "tempo"!!! aguenta Pedro e não chora...

Triatleta disse...

Aguento sim, David :-)

E também sei o que devo fazer (sensivelmente) em cada momento, tempo por base as necessidades, prioridades e motivações.

Este tema irá ter um desenvolvimento positivo muito em breve. É uma questão de organizar as ideias e ter tempo para as partilhar convosco.

Um abraço, saúde e bons treinos!

João Filipe Jacinto disse...

Olá Pedro,

sei o que sentes porque à três anos quando fui ao Camp Europeu Natação/AAbertas em Cadiz,tive problemas semelhantes...
E cheguei a um ponto de quase ruptura, que apenas se resolveu quando regressei de Cadiz, mas que acabou por deixar marcas. Porque fui acusado de ser egoista, mas porque também achava que o outro lado estava a ser egoista! Que não percebia que era algo que gostava e que precisava de fazer... Na altura a minha filha tinha 1 ano.
Actualmente tem 4 mas tem uma irmã com meses e, apesar de treinar com afinco todos os dias e de ter o exame médico pronto desde Março, ainda não o entreguei ao Gameiro, porque tenho receio que volte o vicio!
Um grande abraço
JJ