segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Tão gordos que nós estamos

A propósito de uma Acção de Formação sobre FitnessGram - programa de avaliação da condição física e aconselhamento de crianças e jovens ao nível dos hábitos saudáveis de vida -, que irei frequentar nas próximas semanas, e cruzando este acontecimento com um outro ocorrido num momento de uma aula de Educação Física, com uma das minhas 5 turmas de 7º ano, confirmei algo que tinha vindo a observar e a registar ao longo dos meus 11 anos de serviços prestados como Professor de Educação Física: a condição física dos nossos jovens situa-se no extremo oposto à percentagem de massa gorda desses mesmos jovens. Resumindo: as crianças e jovens - mas também os adultos -, portugueses estão cada vez mais GORDOS!!!

Não quero que fiquem dúvidas: nada me move contra as pessoas gordas, em particular, aquelas que nasceram com essa característica morfológica ou que num determinado momento das suas vidas, não querendo, adquiriram essa característica. No entanto, incomoda-me ver as pessoas a ficarem progressivamente obesas, devido a erros sucessivos cometidos no dia-a-dia.
Para além do facto de, muitos dos meus alunos, estarem com um Índice de Massa Corporal (I.M.C.), ou seja, a Massa Corporal a dividir pela altura ao quadrado (IMC = Massa Corporal / Altura x Altura) acima do valor limite para o género e idade, só o simples facto de eu lhes apresentar alguns tarefas de aula, provoca-lhes de imediato algumas reacções negativas, como se já estivessem cansados só de ouvir e pensar no assunto.

E não existem margens para dúvidas em relação às causas deste problema: elevada ingestão calórica (comer muito) ou/e ingestão de alimentos dispensáveis em termos de valor nutricional (comer mal), em associação com a reduzida ou nula actividade física, à excepção (com muito esforço e contrariados) das aulas de Educação Física, no decorrer do ano lectivo.

Também não é difícil encontrar responsáveis por esta epidemia e até posso afirmar com toda a certeza que este mal da sociedade é muito lucrativo para alguns sectores económicos e grupos profissionais. Senão vejamos e só para dar alguns exemplos: as empresas com interesses no sector alimentar produzem alimentos com elevado teor em açúcar simples e sal, aguçando o apetite das crianças através de publicidade com super-heróis e brindes à mistura; os supermercados disponibilizam extensos expositores com fritos, gomas, chocolates, bolachas e tudo o que nos faz perder a paciência, quando os nossos filhos nos obrigam a seguir por essa rota; a industria farmacêutica esfrega as mãos de contente cada vez que produz mais um "chá ou pílula milagrosa" para o emagrecimento, utilizando para promover esses produtos belas modelos que nunca irão experimentar esse mesmo produto; o sector da medicina estética, actualmente, à conta da imagem de elegância e magreza que impera na sociedade, facturam milhões de euros diários em operações estéticas e internamentos de pessoas que querem à força parecer mais jovens, mais magras e mais bonitas, sem olhar a despesas; os ginásios, também começam a beneficiar desta loucura pela aparência, aos serem invadidos todos os anos - especialmente entre Abril e Junho, ou seja, antes da época balnear -, por pessoas que acumulam quilos de sedentarismo com os consequentes problemas de saúde, as quais esperam destruir em poucas semanas e de forma eficaz, aquilo para que tanto "trabalharam" até ao momento, isto é, excesso de peso; nas escolas, onde os alunos deveriam ser educados em termos de hábitos saudáveis de vida, existe o "jogo da corda", ou seja, de um lado puxam alguns professores para educar as crianças e jovens e do outro lado "puxam" as máquinas de doces e refrigerantes, bem como, um bar escolar recheado com tudo o que não se deve comer, mas com a "bênção" e autorização das direcções de muitas escolas, com a justificação de que é uma fonte de rendimento para o orçamento do estabelecimento.

Resumindo: a gordura de uns é a fonte de rendimento de outros, independentemente do factor saúde, o qual deveria ser o principal motivo de preocupação da sociedade.

Soluções: comer melhor, em termos de quantidade e qualidade, adequadas às necessidades individuais e mexer-se mais, realizando actividade física regular adaptada à idade, género, estado de saúde e capacidades físicas.

Pergunto: quando é que iremos, todos, mudar de atitude?

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