por Duarte Ladeiras, 05 Setembro 2011
A Agência Mundial Antidopagem (AMA) alerta que nunca emitiu relatórios de conformidade em relação a programas baseados em suplementos nutricionais nem deu selos de aprovação a qualquer complemento alimentar usado por atletas. Não há forma de garantir que estes produtos são 100% seguros e que não provocam doping acidental, avisa o organismo.
"Não emitimos relatórios de conformidade sobre programas de suplementos. Nunca o fizemos nem nunca o faremos. Emitimos relatórios de conformidade apenas sobre se os signatários do nosso código [mundial antidoping] estão a usá-lo da forma correcta. (...) Não andamos por aí a descrever programas nutricionais como sendo conformes com as regras da AMA. Isso seria bastante errado", afirmou David Howman (na foto), director-geral da agência, ao jornal neo-zelandês Sunday Star-Times.
Estas declarações foram prestadas na sequência de uma polémica na Nova Zelândia sobre um programa de nutrição no âmbito de um acordo comercial entre a Academia de Desportos daquele país, sob a tutela do Comité Olímpico neo-zelandês, e uma empresa que produz suplementos. Durante dois anos, os atletas daquele país exploraram um buraco no programa para encomendarem complementos que estimulam a produção pelo próprio corpo de testosterona e de outras hormonas, que têm influência na massa e força musculares, conta o site noticioso Stuff.co.nz.
Um inquérito independente realizado por uma firma de advogados procurou determinar se o programa de nutrição cumpria o código mundial antidoping ou se necessitava de alterações para respeitar as normas da AMA. O relatório indica que, apesar de terem tido acesso irregular a suplementos com 'tribulus terrestris', uma planta que estimula a produção de testosterona, os atletas não correram o risco de registarem controlos positivos. Além disso, os dirigentes máximos do desporto neo-zelandês recusaram condenar publicamente a conduta dos atletas.
Howman alerta que apenas a agência antidoping da Nova Zelândia tem um relatório de conformidade da AMA porque gere um programa de combate à dopagem que respeita do código mundial. "Houve a intenção que mostrar que há um selo de aprovação da AMA, quando nós não emitimos esses selos. Aceitação ou apoio não faz parte do mandato da AMA, não é da nossa jurisdição e desta forma não é algo que façamos", vincou.
"Não se pode dar uma garantir de algo ser livre de doping devido ao historial dos suplementos. Não nos esqueçamos que começou nos finais da década de 1990 com a contaminação com nandrolona. Essas preocupações em relação à contaminação não desapareceram", afirmou Howman, lembrando que até a contaminação alimentar "continua a ser uma questão actual": "Não é o tipo de coisa em que se possa olhar e dizer que 'não vai acontecer outra vez', porque vai acontecer. Se tiver um suplemento que pode ter características que alterem a testosterona ele representa obviamente um risco de dopagem."
O director-geral da AMA, ele próprio um advogado, alerta ainda para as consequências legais para as instituições desportivas se estas tiverem programas em que garantam que o suplementos que fornecem são 100% seguros, levando os atletas a tomarem-nos, mas que os produtos acabem por causar testes positivos por dopagem acidental. "Os atletas terão direito a dizer: 'Esperem aí, eu só fiz o que me disseram. As pessoas que me deram o conselho devem ser responsabilizadas'" e a avançarem para tribunal.
Nota: esta mensagem foi copiada na íntegra do Diário de Notícias.
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