quinta-feira, 8 de julho de 2010

Coração

Metade dos alunos já tem risco cardíaco

por PATRÍCIA JESUS

Estudo em oito escolas da região de Lisboa mostra situação "alarmante". Tensão alta, obesidade e fumo são responsáveis.

Quase metade dos alunos do secundário (49%)de Lisboa tem pelo menos um factor de risco para desenvolver problemas do coração. A conclusão é de um estudo-piloto que será apresentado hoje no Instituto Ricardo Jorge (Insa) e que envolveu 854 alunos de oito secundárias da região.

"Os resultados são alarmantes", reconhece a investigadora Mafalda Bourbon, responsável pelo estudo. Cerca de 35% dos jovens dos 15 aos 18 anos acompanhados tinham já dois factores de risco cardiovascular e outros 12% apresentavam três. Entre os factores de risco mais comuns estão a obesidade, hipertensão e o fumo.

"A grande surpresa foi a prevalência da hipertensão: 11% dos alunos tinham já tensão alta e 28% uma pressão arterial normal alta, ou seja, podem ser considerados pré-hipertensos. É uma barbaridade", diz a investigadora do Departamento de Promoção da Saúde e Doenças Crónicas do Insa.

"Sabemos que 42% dos adultos são hipertensos, mas não esperávamos encontrar uma prevalência tão grande em adolescentes. Estivemos numa escola em que havia um número elevado de crianças com 15/10 e não conseguimos encontrar explicação para esse facto", indica.

Conclusões que justificam que se avance para um estudo nacional, até porque "todas as regiões são diferentes e os resultados não por isso extrapoláveis". As oito escolas que participaram no estudo de prevenção cardiovascular "Coração Jovem" são todas da região de Lisboa - cinco públicas e três privadas.

O excesso de peso e a obesidade foram outros problemas detectados. Afectam 16% dos jovens que participaram no estudo. Além disso, 13% dos alunos fumavam e destes 8% todos os dias. Apesar de apenas 0,5% terem diabetes, um em cada dez tinha anomalias do metabolismo. A investigadora salienta ainda a existência de 22% de adolescentes com colesterol a rondar os limites. Por fim, 6% tinham pais com problemas cardíacos prematuros.

Com a idade, notou-se também a tendência para os adolescentes começarem fumar e perderem bons hábitos alimentares: cerca de 60% consomem verduras quase todos os dias, mas 23% tomam menos de cinco refeições diárias.

Quanto ao exercício físico, 55% praticam menos de uma hora por semana fora da escola e 55% e 61% passam, respectivamente, mais de uma hora por dia a ver televisão ou sentados frente ao computador ou consola de jogos.

Para os investigadores, os resultados mostram que "cedo se começam a criar condições de risco" para desenvolver problemas cardiovasculares, a primeira causa de morte em Portugal, e que é preciso começar a prevenção mais cedo.

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O meu comentário

Apenas os dados estatísticos do estudo, em concreto, representam para mim alguma novidade. Como profissional da actividade física, todos os dias observo atentamente e com olhar crítico, os comportamentos dos alunos da escola onde trabalho. Constato que comem muitas vezes e mal, em especial, bolos, bolachas, chocolates, leite chocolatado e refrigerantes, provenientes do bar da escola e, no refeitório, prescindem da sopa, da salada e da fruta e ingerem à pressa a comida do prato principal, quando lhes agrada e, quando a refeição não vai ao encontro das suas preferências e gostos, "almoçam" no bar da escola ou vão fazer a refeição nos bares e restaurantes próximos do estabelecimento de ensino. Do meu ponto de vista, existem responsáveis por estes graves erros: a) os Pais e Encarregados de Educação, ao darem o dinheiro aos educandos, sem controlarem, como gastam e onde gastam esse dinheiro, ou melhor, onde comem e bebem, e o que comem e bebem; b) Os órgãos de gestão da escola, ao colocarem à disposição e venderem no bar comida e bebida sem valor nutritivo significativo, preterindo alimentos saudáveis, e, ao não controlarem de forma eficaz, no refeitório escolar, a comida que os alunos transportam no tabuleiro, bem como a ingestão equilibrada dos alimentos ao dispor dos alunos. Escrevo com conhecimento de causa, uma vez que, frequento o bar e refeitório escolar diariamente, mas sinto-me sem argumentos, nem poderes, para intervir de forma mais eficaz, apesar de ter realizado várias sugestões por escrito neste sentido.

Sobre o tabaco, nem me vou alongar muito. Resumindo: é um vício estúpido, prolongado no tempo e altamente lucrativo para os abutres (tabaqueiras, estado, farmacêuticas).

Quanto à actividade física, na escola, o boicote à aula de Educação Física, começa quando os alunos combinam em chegar atrasados ao início da aula, ou demoram muito tempo a mudar de equipamento, para além dos que nem sequer apresentam material desportivo, e depois as outras estratégias para perturbar o normal funcionamento das aulas, tais como: interrupções desnecessárias, a lentidão ou recusa em realizar as tarefas propostas no plano de aula, a lentidão nas transições entre estações ou locais de prática. Entretanto, a aula termina, o plano de aula não foi cumprido e perde-se mais uma oportunidade de aprender conteúdos e de realizar actividade física com qualidade. Ora isto multiplicado por 90 a 100 lições anuais, é demasiado tempo desperdiçado, muitos conteúdos ficam por aprender e muitas calorias ficam por queimar. Pois, as tais calorias que deveriam ser despendidas em actividade física, 2-3 vezes por semana, durante pelo menos 30 minutos, seguidos ou fraccionados, num intensidade de esforço moderada a vigorosa. Realçar o facto de a Educação Física e Desporto Escolar, proporcionados nos estabelecimentos de ensino, ser gratuita, planeada e orientada por profissionais com formação superior para o exercício da função de Professor de Educação Física. Ou seja, nas escolas, os alunos têm tudo o que é necessário para serem educados e formados no sentido de adquirirem hábitos de vida saudável, nos quais se inclui a imprescindível actividade física, praticada de forma regular.

De que valem os Clubes da Saúde, os Projectos de Educação para a Saúde, a Educação Física, o Desporto Escolar, os diversos rastreios gratuitos, as diversas campanhas, no interior dos estabelecimentos de ensino, ao longo de todo o ano lectivo, ao longo de vários anos lectivos, se boa parte da população-alvo - os alunos -, não valorizam, nem aproveitam estas oportunidades para modificar comportamentos e adquirir hábitos de vida saudáveis para o presente e futuro, e se, a esmagadora maioria dos Pais e Encarregados de Educação, ignoram ou desvalorizam esta problemática?

O que será preferível: fazer um esforço para adquirir e manter hábitos de vida saudáveis? ou, devido aos excessos, adquirir graves problemas de saúde (diabetes, colesterol elevado, obesidade mórbida, doenças cardiovasculares, tendinites por sobrecarga na estrutura óssea, depressões, etc.) e recorrer a serviços médicos?

Também me incomoda bastante passar uma parte substancial do ano lectivo a chamar a atenção e aconselhar sobre este assunto e, ainda assim, o dinheiro dos meus impostos ser canalizado para suportar despesas de saúde com pessoas que teimaram em cometer erros sucessivos ao longo da sua vida, mantendo hábitos de vida pouco ou nada saudáveis, ou melhor, hábitos de vida prejudiciais para a sua saúde. Fico chateado, claro que fico chateado!

2 comentários:

Arzebiu disse...

Apontamento muito interessante. O meu tempo de escola já lá vai há muito tempo mas já há uma década era assim. Por acaso tive a oportunidade de estar numa turma só de rapazes (informática, tinhamos 2 raparigas só) e tinhamos umas aulas de EF muito à frentex,e adorávamos. No meio de tantas aulas secantes poder passar 3 aulas por semana em exercício era super agradável.

Hoje em dia muitos jovens não sabem o quão agradável é fazer exercício.

Triatleta disse...

Obrigado!
O esforço dispendido na realização de actividade física e desportiva, é largamente compensada pelos seus benefícios.
Os profissionais da actividade física, necessitam da colaboração imprescindível dos pais e encarregados de educação dos alunos, para nós, em conjunto, os educarmos e formarmos nessa área, despertando nas crianças e jovens, o prazer em realizar exercício físico regularmente.