sexta-feira, 13 de junho de 2008

Não sabe, não mexe!

Pratico desporto de competição desde os 12 anos de idade e sempre me habituei a realizar a minha prática desportiva com regras bem definidas. Nessas regras, incluem-se os espaços/recintos de jogo com todas as áreas, linhas e percursos, de preferência, bem marcados e sem margem para dúvidas, fossem os de desportos colectivos ou os dos desportos individuais. Assim, no Atletismo, por exemplo, quando fazia salto em comprimento, sabia que tinha que realizar a corrida de balanço num corredor, fazer a chamada sem pisar a areia/plasticina e cair na caixa de areia para depois o salto ser medido. Mas, quando fazia corta-mato, aparentemente, poderia ser mais complicado. Mas só aparentemente, porque a organização tinha o cuidado de definir e marcar bem o percurso e nós, os atletas, fazíamos o reconhecimento do mesmo para termos a certeza que não iríamos ser surpreendidos pela negativa.
Quando passei para o Duatlo e Triatlo, os percursos cobriam áreas muito maiores e, sobretudo, em águas abertas, para nos orientarmos a bóias de grandes dimensões são uma ajuda preciosa. Quanto aos percursos de ciclismo e corrida, de vez em quando, surgem situações de dúvida e, algumas das quais, podem representar perigo de vida para os atletas, caso estes não redobrem a atenção.
No último ano e meio, passei a dedicar mais tempo ao treino e competição em bicicletas de todo-o-terreno. Prática esta que é muito do meu agrado, por ser realizada com o meu veículo preferido - a bicicleta - e por estar em contacto com a natureza, com tudo o que a mesma nos proporciona, inclusive, os percursos com altimetria de grande contraste e/ou com obstáculos naturais para transpor. Não sou dotado de grande técnica, mas noto uma considerável evolução, desde o início desta nova aposta competitiva até ao presente momento, fruto de um aumento progressivo das horas de treino, mas também de uma melhoria significativa do material utilizado.
Quando circulo sozinho em treinos, o meu sentido de orientação não é particularmente apurado, mas também não me perco irremediavelmente numa floresta e acabo por encontrar ao fim de pouco tempo o tal trilho que me leva de volta ao percurso previamente definido.
Mas, em competição, é OBRIGAÇÃO da organização definir um percurso ciclável, medi-lo com rigor, sinalizá-lo por completo - pelo menos, com setas no chão, fitas e placas bem visíveis e relativamente próximas umas das outras -, para que, como costumo dizer por piada, até um "míope, daltónico e sem qualquer sentido de orientação" possa realizar sozinho todo o percurso do início até final sem se enganar e perder uma única vez que seja e, por último, oferecer condições de segurança (telemóveis de emergência, elementos da organização bem identificados ao longo de todo o percurso, forças policiais em locais de passagem por estradas de alcatrão, assistência médica junto do locais mais perigosos, estando estes previamente identificados e sinalizados, etc).
Contudo, actualmente, é moda, realizar eventos destinados a bicicletas de todo-o-terreno; não faltam de Norte a Sul e Ilhas de Portugal, no mesmo fim-se-semana, passeios, raids e mini-raids, maratonas e meias-maratonas, travessias e outras designações apelativas para chamar participantes, umas vezes pelo percurso, outras pelos prémios finais. Como consequência da proliferação destes eventos, até já há participantes a puxarem da calculadora para fazerem contas sobre qual o evento que oferece melhores condições (valor da inscrição, brindes finais, almoço, lavagem das bicicletas, etc) e menos despesas (combustível, portagens, alimentação, dormida, valor da inscrição) para depois esgrimirem argumentos nos fóruns da especialidade. Certo! Estão no seu direito de o fazerem e cada um deve orientar a sua prática da actividade física de acordo com as suas motivações.
Voltando às organizações de eventos para bicicletas de todo-o-terreno e resumindo por agora o assunto: nem todas têm qualidade para realizar estes eventos. Ora porque não têm conhecimentos suficientes ou por insuficientes recursos materiais, humanos e financeiros e, mais garve, quando acumulam ambas dificuldades, e, nestes casos, não deveriam sequer pensar em organizar algo para o qual não têm capacidade, sob pena de poder colocar em perigo a segurança e saúde dos participantes ou, no mínimo, dar origem a situações de conflito entre participantes e entre estes e a organização, por exemplo, quando um percurso não está bem marcado e origina dúvidas e enganos.
Para concluir, condeno em particular as organizações que por capricho de um ou vários elementos ou por visarem o lucro com a realização do evento, iludem os participantes e, no final, constatasse a inequívoca falta de qualidade do produto final apresentado. Por isso, fica um conselho: se não sabem, não mexam!!!

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