quarta-feira, 9 de março de 2016

O negócio do lixo

Ao longo das minhas quatro décadas de existência, de forma gradual, consciente e consistente, tenho vindo a reduzir a minha pegada ecológica. Nascido e criado numa aldeia, o contacto com a natureza sempre fez parte do quotidiano. Após alguns anos, por força das circunstâncias, fui obrigado a viver em "caixas de fósforos", por vezes, partilhando o espaço com outros residentes. Ainda assim, e sempre que possível, procurei adoptar uma postura ecológica.

Quando, finalmente, consegui as condições necessárias, regressei ao campo, para viver com a família. Com base em rotinas amigas do ambiente e de poupança doméstica, também estou a educar educar os meus filhos neste princípios, adoptando estratégias e hábitos como:
a) adquiri quatro caixas de compostagem (p.v.p. de 40€ cada), para obter composto orgânico, a partir de lixo selecionado. O produto final é aplicado nas árvores de fruto e na horta doméstica;
b) aproveito a água da chuva para vários reservatórios, a qual depois serve para regar plantas e lavagens diversas;
c) separo as pilhas, os plásticos, o papel e cartão, as rolhas de cortiça, o vidro e deposito tudo no ecoponto mais próximo;
d) utilizo filtros nas torneiras para reduzir o caudal;
e) aproveito a água fria dos duches para outras utilizações;
f) evito utilizar o automóvel para pequenas deslocações;
g) utilizo pellets/granulado de madeira para aquecimento central e assim reduzo drasticamente as emissões de gases e substâncias poluentes do ar, em comparação com o gasóleo;
h) utilizo os sacos de plástico dos pellets para saco do lixo (plástico e metal) que separo e coloco no respetivo ecoponto;
i) brevemente, conto instalar um sistema de GPL num automóvel;
j) (...).

Possivelmente, alguns leitores vão pensar "fazes isso porque podes". Sim, felizmente também é verdade. Mas podia não querer fazer tudo isto. Porque há quem tenha as mesmas condições e oportunidades (ou melhores) que a minha família tem, e não se dá ao trabalho. Certo?

Portanto, ficam as sugestões.

O outro lado da questão é o seguinte: por tudo o que li, ouvi e assisti, o negócio da recolha, da separação, do tratamento, da reciclagem e da reutilização do lixo, é óbvio, beneficia o meio ambiente e dinamiza a economia nacional, mas o lucro fica quase exclusivamente nas empresas empresas direta e indiretamente relacionadas com o negócio do lixo, em particular, as que conseguiram os contratos para substituírem o estado central e as autarquias. 

Os cidadãos com consciência ambiental e com estratégias de economia doméstica investem tempo e dinheiro que, é um facto, gera muitos postos de trabalho e dinamiza a economia nacional, mas por outro lado, garantem às empresas do negócio do lixo enormes lucros que não completam o ciclo habitualmente existente num país dito desenvolvido. Ou seja, os consumidores ecologicamente ativos não sentem que existe uma compensação por todos estes esforços, refletidos, por exemplo, nos produtos e serviços que adquirem, nas faturas da água (aumento de mais de 50% no último ano) e da electricidade ou em ofertas e descontos.

Pessoalmente, sinto-me muito satisfeito por tudo aquilo que a minha família está a fazer e, felizmente, isso reflete-se na economia familiar e na educação dos meus filhos e quero acreditar que no meio ambiente também. Mas num país normal e desenvolvido, uma família ecologicamente ativa como a minha, muito provavelmente, senter-se-à ainda mais recompensada e motivada para continuar por muitas décadas este processo.

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